Nos tempos atuais, quase se perdeu a consciência de que a
água é a manifestação do Feminino em nosso planeta. E não é por menos que, numa
cultura patriarcal e machista, onde o divino feminino seja tão desrepeitado, as
águas por sua vez, justamente, nunca estiveram tão poluídas e são cada vez mais
escassas. É a interessante reflexão que faz Kathi von Koerber,
dançarina/curandeira e diretora de cinema, que vive na Alemanha e África do
Sul.
Estamos vivendo uma época em que viemos a nos dar conta de
que por séculos o valor real da água como a verdadeira forma do feminino foi
negligenciado. Por milênios a humanidade reverenciou o elemento do fogo, o
filho do sol. Fogo é uma manifestação do masculino no planeta Terra, e a água é
o aspecto feminino. Em nossa história, fogo significou riqueza, potencial,
capacidade de forjar ouro, massacrar e queimar impérios, conquistar
territórios, cruzadas e caça às bruxas; e continua sendo usado como elemento de
impacto e poder. Desta maneira, civilizações imperiais governaram com desdém
pelo balanço dos elementos da água e fogo. Este último, como relativo ao sol no
planeta Terra, tornou-se a celebrada força do elemento masculino de força e
poder, e as águas, elemento feminino, lenta mas consistentemente foram
depreciadas e poluídas.
Hoje nossas águas estão em estado de profunda crise e nós
humanos refletimos este estado em nós mesmos. Sem dúvidas o ciclo da vida está
sendo desafiado enquanto o aquecimento global acelera, represas estão
interferindo com o fluxo da natureza e até mesmo o rio Amazonas está
experimentando secas. Igualmente, a saúde e o bem estar interior da humanidade
está experimentando pobreza espiritual e existencial. Desordens mundiais de
ansiedade, depressão, esquizofrenia, insônia, vícios e personalidades maníacas
são resultado da crise interior. Desordens femininas como a TPM extrema,
fibrose, câncer de útero, infertilidade e câncer de mama são apenas alguns
exemplos que refletem a luta do sexo feminino para encontrar equilíbrio e saúde
num mundo moderno afastado da natureza. Esta crise é resultado da falta de
harmonia entre os humanos; homens, mulheres e sua relação mútua e consigo
mesmos, a natureza e os elementos. E mais especificamente o desequilíbrio da
água e do fogo em nossas vidas.
Como passamos a compreender nas últimas décadas, a água é
fundamental para nossa sobrevivência futura. Mais do que jamais imaginamos.
Como habitantes da Terra, nós entramos numa época onde precisamos priorizar e
reverenciar mais a terra e seus habitantes femininos para nos reequilibrar e
harmonizar.
O princípio do feminino no planeta Terra pode ser encontrado
no fluxo das águas. Os lagos, rios, tudo que flui, acumula, nutre e
eventualmente origina o oceano. Nos textos Védicos é dito que existem sete
tipos de águas: nascentes, corredeiras, rios, lagoas, lagos, aquíferos e o mar.
Por exemplo, os lagos e lagoas representam o ventre, os rios e as cachoeiras a
fertilidade e virilidade das águas e os oceanos representam o líquido
amniótico. Os mares e oceanos são conhecidos em muitas tradições com a mãe das
águas, também conhecido no Brasil como Iemanjá. O elemento da água é o sangue
de nosso planeta, os rios são as veias da Terra e por natureza, as mulheres
cuidam e abençoam a água. O princípio feminino é nutrir, manter seguro, como a
mãe segurando e alimentando seu bebê. Ao nutrir seu ventre, suas crianças, as
mulheres efetivamente nutrem as águas e a si mesmas. Portanto, as mulheres tem
a responsabilidade de agir como guardiãs das águas. Toda água que flui traz a
marca da nutrição, da mãe e da cuidadora.
A natureza do feminino é muito similar a um cristal.
Cristais são condutores de energia, assim como as mulheres. Mulheres são
geralmente mais sensíveis que homens, elas absorvem e transformam a energia,
como uma mãe que cuida de seu filho com leite do seio. Da mesma maneira,
pensamentos e emoções são absorvidos e armazenados em nossos corpos através de
nossas águas, como nosso sangue que leva nutrientes para as células e órgãos.
Água é um condutor e portanto precisamos tomar cuidado com quais pensamentos
colocamos na água pois ela pode absorvê-los. Quando absorvem e não liberam,
nossas águas podem ficar fisicamente desequilibradas, resultando em desarmonia
ou doença. Então, para reestabelecer a harmonia, é preciso aprender a
equilibrar as emoções e estar consciente de que estamos poluindo nossas águas
interiores com pensamentos negativos.
É o entendimento de que precisamos participar ativamente dos
ciclos da vida e não nos considerarmos separados da natureza. Para cada
recebimento há uma retribuição. Assim como há um negativo, há um positivo, como
uma bateria. Para cada recebimento de água há uma oferta. Para cada emoção há
um ato de harmonização e limpeza. Como na natureza, para cada noite há um dia,
enquanto o sol e a lua ciclam harmoniosamente, as energias do fogo e da água
podem novamente se realinhar. Então para cada gole de água que sacia nossa sede e limpa
nossos corpos, deve haver um ato recíproco. Um ato de devolver é um
agradecimento em uma tentativa de harmonização de nossas águas internas e
externas. Pensando positivamente quando cozinhamos, ou quando movemos nossas
águas internas através da dança, ou ao cantarmos e vibrarmos durante o banho.
Compreender que toda a água que usamos foi usada por nossos ancestrais e será
usada por nossos filhos e portanto devemos honrar a linhagem e a continuidade
da vida. Com o tempo podemos reintegrar o ciclo da água em nossas
vidas, seja através de um estilo de vida sustentável, coletando as águas cinzas
ou sabendo de onde vem sua água potável. Assim, nosso conhecimento se torna
mais consciente do design sagrado da vida e das leis da natureza. Para homens e
mulheres poderem também compreender que a cozinha, para uma mulher, é o ponto
central da família e o altar vivo do equilíbrio alquímico da água e do fogo.
Não podemos viver sem água. Água é vida, água dá vida e água
tira vida. Estamos vivendo no limiar da maior crise que a humanidade já
vivenciou, que é a falta de água fresca e limpa. Portanto é extremamente
importante como iremos tratar a água interna e externa. Uma crise planetária da
água revela-se de três formas: água contaminada, falta de água e excesso de
água. Em nossos corpos, a água poluída se manifesta como raiva, falta de água
se relaciona com depravação e tristeza e o excesso de água é o ciúme, luxúria e
ganância, todos levando a tormentos e desequilíbrio. Para quaisquer formas de
turbulência sobre a água que falemos, o antídoto são rezas e boas ações.
Mulheres foram abençoadas com o presente da auto-limpeza na
forma de nosso ciclo menstrual. Assim como a terra tem seus ciclos, os sistemas
reprodutivos da mulher e o ciclo menstrual são um mecanismo de limpeza
sintonizado com a lua. A lua é o guardião feminino que alinha as águas femininas
e a menstruação aos ciclos do cosmos. Assim como a água limpa a si mesma por
osmose, evaporação, precipitação e filtragem durante a sedimentação, as
mulheres liberam e transformam toxinas acumuladas, energias estagnadas e
emoções através da menstruação. A menstruação é uma maneira do corpo e da mente
se limparem para toda a família, pois a mulher é a peça central da família,
pois é a que dá a luz e nutre. A menstruação foi suprimida pela sociedade ao
ponto de pessoas tentarem escondê-la, fingir que não está acontecendo e
ignorando-a. Todos os sintomas da TPM, ou saúde debilitada em torno da
menstruação ou dos sistemas reprodutivos são claras indicações de alguma sorte
de desarmonia espiritual ou física. Os ciclos naturais nunca deveriam ser
considerados como certezas; o mesmo vale para o sistema menstrual da mulher.
O ciclo natural da mulher é um método altamente avançado
para as mulheres se reconectarem à terra e limparem seu ser interior. Mulheres
precisam aprender a honrar este momento sagrado e serem apoiadas pelo seu
entorno neste feito. Devolver o sangue menstrual como matéria fértil para o
solo é uma prática ancestral, contrastante com o conveniente descarte na
descarga do banheiro. A verdadeira reza da mulher para devolver seu sangue
menstrual para a terra, através do uso do moderno e conveniente coletor de
silicone fortalece a comunicação direta com a terra e o eu interior da mulher.
Isso permite que as mulheres novamente se tornem suas próprias curandeiras e
revigora a relação deteriorada com o planeta Terra. As emoções ficam ancoradas
ao solo e não na água. Quando o sangue menstrual é depositado na água, a água
se torna mais volátil com emoções e toxicidade. Mesmo a água sendo reciclada
muitas vezes, nós beberemos esta volatilidade e será difícil equilibrar mente,
espírito e a harmonia masculino/feminino no planeta. O elemento terra tem a
habilidade de acalmar as águas.
O primeiro passo para harmonizar o papel do divino feminino
é recuperar nossas águas. Como humanidade e indivíduos, temos de reclamar nossas
águas. Em uma jornada interior para curar e garantir águas tranquilas é
importante integrar a si mesmo nos ciclos naturais das leis do universo. Em um
nível ambiental é importante estar seguro de onde vêm nossa água potável, como
foi tratada e para onde fluirá depois. É a responsabilidade pessoal com a saúde
interior e sua manutenção, para que então possamos ser úteis na preservação e
continuidade da comunidade. Na reza e no dia a dia, significa balancear as
águas internas e externas permitindo a nós mesmas honrar e ouvir a fluidez das
águas femininas.
https://plantandoconsciencia.wordpress.com/2010/12/03/redescobrindo-o-principio-do-divino-feminino-na-agua/
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