sábado, 25 de agosto de 2012

Suite Chanel - Ritz Hotel

   Da arquitetura imponente aportando na gastronomia requintada ao deleitar-se com um Vesper Martini ouvindo Puttin the Ritz no bar que leva o nome de Ernest Hemingway, dentre tantos outros famosos que por lá estiveram inúmeras vezes, o Ritz é sem dúvida um "sonho de consumo". 


 
   Construído no século XVIII como propriedade particular foi em 1889 que se transformou em hotel e, desde 1979 tem como dono o egípcio Mohamed Al-Fayed.



   Passando por um período de 2 anos de reformas tem previsão de reabertura no Verão de 2014.


   Dentre suas suítes fenomenais, destaca-se  a que leva o nome Chanel, já que Mademoiselle Coco Chanel lá morou nos seus últimos 36 anos de vida.




  Reza a lenda que a própria Coco disse a uma camareira:


                                                                       "É assim que se morre,
                                                                           Mas sempre chique."
                                                                                     -Coco Chanel

  

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Dia do Folclore




  Em outros países o folclore é tido com patrimônio nacional, pois é sabido que ele assume grande importância na história de um povo, e através do conhecimento da cultura antiga é possível entender a cultura atual. Conforme suas características; é possível identificar os fatos folclóricos a partir do anonimato, sendo que todos os componentes folclóricos são de autoria desconhecida, de aceitação coletiva, e que cada pessoa absorve a essência folclórica e a repassa aos outros a partir de seu entendimento próprio e da transmissão oral. Para manter vivo o folclore típico, de cada região existem datas específicas da realização dos festejos e artes.

  Mas o que é o folclore em si? É um conjunto de crenças, lendas, festas, superstições, artes e costumes de um povo, que normalmente é passado de geração a geração por meio dos ensinamentos e da participação dos festejos e costumes. De origem inglesa, a palavra folclore vem da junção folk, que significa povo; e lore, que significa sabedoria popular; e folclore quer dizer sabedoria do povo. 
   Permutando acontecimentos reais, históricos e alegóricos as lendas e mitos são transmitidos de forma oral através dos tempos, e procuram explicar muitas vezes, fatos tidos como misteriosos ou sobrenaturais. Os mitos sempre possuíram um forte artefato simbólico carregados de magia pelos povos antigos, que não conseguiam explicar os fenômenos da natureza de forma científica, pelo fato da ciência ser inexistente ou começando a engatinhar. Eles serviam também, como forma de passar conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano. Assim, Deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido à vida e ao mundo.

   Infelizmente, muitas coisa se perdeu no tempo,incluindo até o próprio dia do folclore é muito pouco lembrado, bem como, a magia dos contos e mitos que embalaram antigas gerações e tradições poéticas do país. Nosso folclore está morrendo, as fábulas e contos que nos levavam para o mundo imaginário, através da literatura ou de estórias contadas no intuito de um universo de aprendizado interior. A magia dos contos foi se consumindo ao longo dos tempos, pois em casa os pais já não sentam com seus filhos e contam as histórias antigas, por que eles também as desconhecem.

   Salvo em muitas cidades que ainda persistem tais histórias - como um fator cultural e importantíssimo; hoje devastado por culturas tecnológicas, de um mundo consumista e não mais com o brilho da leitura feita ao pé da cama pelos nossos pais ou avós.

   No conjunto o folclore ser definido na comida, vestuário, lendas, danças, brincadeiras, etc. Mas quem se lembrará disso se a verdadeira cultura morre aos poucos perdidas nas amarras do tempo sobre as grandes centros urbanos? O mito resiste ao tempo, caso contrário não seria um mito. Mas como resgatar sua beleza? Passando oralmente essa ampla cultura, como ocorria outrora, e persiste pelos rincões longínquos.

   O folclore é a cultura de um povo, de um país, de uma civilização. E as fábulas são a essência histórica e o engrandecimento cultural, o desenvolvimento do intelecto dos futuros cidadãos. Se o país continuar vivendo na marginalidade cultural, talvez aconteça o que ninguém jamais imaginou - o assassinato do mito, da tradição, da fantasia e dos contos que um dia fizeram questionar o medo ou espalharam estórias de amor...

   Relembre ou conheça algumas das belas lendas que fazem parte do povo brasileiro:


NEGRINHO DO PASTOREIO
   É uma das lendas mais populares do Brasil, principalmente na região sul. Diz a lenda que um fazendeiro ordenou que um menino, seu escravo fosse pastorear seus cavalos. Após um tempo, o menino voltou e o fazendeiro percebeu que faltava um cavalo: o baio. Como castigo o fazendeiro chicoteou o menino até sangrar e mandou que ele fosse procurar o cavalo que faltava. O menino conseguiu achar baio, porém não conseguiu capturá-lo, então, o fazendeiro o castigou mais ainda, prendendo-o em um formigueiro. No dia seguinte, o fazendeiro se deparou com o menino sem nenhum ferimento, e a Virgem Maria do seu lado e o cavalo baio. Após o fazendeiro ter pedido perdão, o menino nada respondeu, montou em baio e saiu a galope.

SACI-PERERÊ
   O Saci-Pererê é uma lenda do folclore brasileiro que se originou a partir de tribos indígenas do sul do Brasil. ele é mais conhecido como um menino de uma perna só, que usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca. Mas inicialmente, o Saci era retratado como um "curumim endiabrado", com duas pernas de cor morena e com um rabo típico.

   Com a influência da mitologia africana, o Saci se transformou em um negrinho que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e da mitologia européia veio o gorro vermelho. O Saci é um travessuro, brincalhão que se diverte com os animais e com as pessoas. Por ser muito moleque ele acaba causando transtornos, como: fazer o feijão queimar, esconder objetos, jogar os dedais das costureiras em buracos e etc. Segundo a lenda, o Saci está nos redemoinhos de vento e pode ser capturado jogando uma peneira sobre os redemoinhos. Feito isso, deve-se retirar seu capuz, o que garante sua obediência e depois prendê-lo em uma garrafa. Dizem que os Sacis nascem em brotos de bambus - onde vivem sete anos e, após esse tempo, vivem mais setenta e sete para atentar a vida dos humanos e animais, depois morrem e viram um orelha de pau, um cogumelo venenoso.

BICHO PAPÃO
   O bicho-papão é uma figura fictícia mundialmente conhecida. É uma das maneiras mais tradicionais que os pais ou responsáveis utilizam para colocar medo em uma criança, no sentido de associar esse "monstro" à contradição ou desobediência da criança em relação à ordem ou conselho do adulto.
   Desde a época das Cruzadas, a imagem de um ser abominável já era utilizada para gerar medo nas crianças. Os muçulmanos projetavam esta figura no rei Ricardo, Coração de Leão afirmando que caso as crianças não se comportassem da forma esperada, seriam levadas escravas pelo Melek-ric (bicho-papão): “Porta-te bem senão o Melek-ric vem buscar-te”. Assim, a imagem do bicho-papão possui variações de acordo com a região. No Brasil e em Portugal, é utilizado o termo “bicho-papão”. Nos Países Baixos, o monstro leva o nome de Zwart Piet (Pedro negro), que possui a tarefa de pegar as crianças malvadas ou desobedientes e jogá-las no Mar Negro ou levá-las para a Espanha. Em Luxemburgo,  ele é Housecker, um ser que coloca as crianças no saco e fica batendo em suas nádegas com uma pequena vara de madeira. Ainda, segundo a tradição popular, o bicho-papão se esconde no quarto das crianças mal educadas, nos armários, nas gavetas e debaixo da cama para assustá-las no meio da noite. Outro tipo de bicho-papão surge nas noites sem lua, e coloca crianças mentirosas dentro um saco pra fazer sabão - quando uma criança faz algo errado, ela deve pedir desculpas, caso contrário, segundo a lenda, receberá uma visita do tal monstro.

 BOITATÁ
   Esta lenda foi criada pelo padre José de Anchieta, na qual descreveu o Boitatá como uma gigantesca cobra de fogo ondulada, com olhos enormes e flamejantes, além do couro transparente, que cintila nas noites em que aparece deslizando nas campinas e na beira dos rios. E ainda, ele pode se transformar em uma tora em brasa, para assim queimar e punir quem coloca fogo nas matas. Reza a lenda, que quem se depara com o Boitatá geralmente fica cego, pode morrer ou até ficar louco . Assim, quando alguém se encontrar com o Boitatá deve ficar parado, sem respirar e de olhos bem fechados.

   Como a maioria das lendas e crendices populares que são passadas de geração em geração através do “ouvir e contar”, essa lenda sofreu modificações, sendo que em muitas partes do Brasil é contada diferente, como por exemplo: o Boitatá é descrito como um touro de "pata como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo".

 BOTO ROSA
   Nas noites de lua cheia, próximas as comemorações de festa junina, o Boto cor-de-rosa sai do Rio Amazonas, transforma-se em metade homem e continua em condição de boto na outra metade do corpo. Muito atraente e viril, ele vai para as comunidades próximas ao rio, encanta e seduz a moça mais bonita. O belo rapaz usa sempre um chapéu, leva as moças até a margem do rio e as engravida. Ao engravidá-las, o rapaz volta a ser um boto cor-de-rosa e a moça volta a sua comunidade grávida. Por esse fato, as pessoas que vivem em comunidades próximas aos rios, onde habitam a espécie de botos cor-de-rosa, o comem; acreditando que ficarão enfeitiçadas por ele pelo resto da vida.Dizem também, que algumas pessoas que se alimentam do boto ficam loucas.

 CUCA
   A Cuca é sem dúvida, um dos principais seres do folclore brasileiro, principalmente pelo fato de o personagem ter sido descrito por Monteiro Lobato em seus livros infantis e em sua adaptação para a TV, o Sítio do Pica-Pau Amarelo. A Cuca se originou através de outra lenda: a Coca, uma tradição trazida para o Brasil na época da colonização. Segundo a lenda, ela é uma velha feia que tem forma de jacaré e que rouba as crianças desobedientes,sendo usada, muitas vezes como uma forma de fazer medo em crianças que não querem dormir.

 LOBISOMEM
   O lobisomem é talvez, uma das lendas mais populares do mundo. Suas origens se encontram na mitologia grega, porém sua história se desenvolveu na Europa. Ela é muito conhecida no folclore brasileiro, sendo que algumas pessoas, especialmente aquelas mais velhas e que moram nas regiões rurais, de fato crêem na sua existência.

     Ele abandona a forma humana a cada lua cheia e passa a ser um monstro gigantesco, meio homem e lobo. Segundo a lenda, quando uma mulher tem 7 filhas e, depois, um homem, esse último filho será um Lobisomem. Quando nasce, a criança é pálida, magra e possui as orelhas um pouco compridas, sendo que as formas de lobisomem aparecem a partir dos 13 anos de idade. Na primeira noite de terça ou sexta-feira, o garoto sai à noite e no silêncio da noite se transforma pela primeira vez, e uiva para a Lua, semelhante a um lobo. Depois da primeira transformação, todas as noites de terça ou sexta-feira, o homem se transforma em lobisomem e passa a visitar 7 partes da região: 7 pátios de igreja, 7 vilas e 7 encruzilhadas. Por onde ele passa, açoita os cachorros e desliga todas as luzes que vê, além de uivar de forma aterrorizante. Dos primeiros raios de sol, ele volta a ser homem. E para findar a situação de Lobisomem, diferente da versão européia, onde este deve ser morto por uma bala de prata, aqui é necessário que alguém bata bem forte em sua cabeça. Algumas versões da história dizem que os monstros têm preferência por bebês não batizados, fazendo com que as famílias batizem suas crianças o mais rápido possível.



IARA - MÃE DAS ÁGUAS
   A palavra Iara é de origem indígena. Yara significa “aquela que mora na água” ou a “mãe das águas”, de acordo com a lenda, de origem indígena, Iara é uma sereia (corpo de mulher da cintura para cima e de peixe da cintura para baixo) morena de cabelos negros e olhos castanhos. Dizem que a linda sereia vive nos rios do norte do país, e nas pedras das encostas, costuma atrair os homens com seu belo e irresistível canto. Os incautos costumam seguir Iara até o fundo dos rios, local de onde nunca mais voltam. Os poucos que conseguem voltar acabam ficando loucos em função dos encantamentos da sereia., e somente um ritual realizado por um pajé pode trazê-los de volta à razão. Os índios da região amazônica contam, que Iara era uma excelente índia guerreira e seus irmãos tinham ciúmes dela, pois o pai a elogiava muito; certo dia resolveram matá-la. Porém, ela ouviu o plano e resolveu matar os irmãos, como forma de defesa. Após ter feito isso, Iara fugiu para as matas. Seu pai a perseguiu e conseguiu capturá-la e como punição ela foi jogada no rio Solimões (região amazônica). Porém, os peixes a salvaram e, como era noite de lua cheia, ela foi transformada numa linda sereia.




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

As Dádivas da Deusa Hécate




  O dia 13 de agosto era uma data importante no antigo calendário greco-romano, dedicada às celebrações das Deusas Hécate e Diana, quando Lhes eram pedidas bênçãos de proteção para evitar as tempestades do verão europeu que prejudicassem as colheitas. Na tradição cristã comemora-se no dia 15 de agosto a Ascensão da Virgem Maria, festa sobreposta sobre as antigas festividades pagãs para apagar sua lembrança, mas com a mesma finalidade: pedir e receber proteção. Com o passar do tempo, perdeu-se o seu real significado e origem e preservou-se apenas o medo incutido pela igreja cristã em relação ao nome e atuação de Hécate. Esta poderosa Deusa com múltiplos atributos foi considerada um ser maléfico, regente das sombras e fantasmas, que trazia tempestades, pesadelos, morte e destruição, exigindo dos seus adoradores sacrifícios lúgubres e ritos macabros. Para desmistificar as distorções patriarcais e cristãs e contribuir para a revelação das verdades milenares, segue um resumo dos aspectos, atributos e poderes da Deusa Hécate.
  
   Hécate Trivia ou Triformis era uma das mais antigas deusas da Grécia pré-helênica, cultuada originariamente na Trácia como representação arcaica da Deusa Tríplice, associada com a noite, lua negra, magia, profecias, cura e os mistérios da morte, renovação e nascimento. ''Senhora das encruzilhadas" - dos caminhos e da vida - e do mundo subterrâneo, Hécate é um arquétipo primordial do inconsciente pessoal e coletivo, que nos permite o acesso às camadas profundas da memória ancestral. É representada no plano humano pela xamã que se movimenta entre os mundos, pela vidente que olha para passado, presente e futuro e pela curadora que transpõe as pontes entre os reinos visíveis e invisíveis, em busca de segredos, soluções, visões e comunicações espirituais para a cura e regeneração dos seus semelhantes.
  
   Filha dos Titãs estelares Astéria e Perseu, Hécate usa a tiara de estrelas que ilumina os escuros caminhos da noite, bem como a vastidão da escuridão interior. Neta de Nyx, Deusa ancestral da noite, Hécate também é uma “Rainha da Noite” e tem o domínio do céu, da Terra e do mundo subterrâneo. “Senhora da Magia” confere o conhecimento dos encantamentos, palavras de poder, poções, rituais e adivinhações àqueles que A cultuam, enquanto no aspecto de Antea, a “Guardiã dos sonhos e das visões”, tanto pode enviar visões proféticas, quanto alucinações e pesadelos se as brechas individuais permitirem. Como Prytania, a “Rainha dos mortos”, Hécate é a condutora das almas e sua guardiã durante a passagem entre os mundos, mas Ela também rege os poderes de regeneração, sendo invocada no desencarne e nos nascimentos como Protyraia, para garantir proteção e segurança no parto, vida longa, saúde e boa sorte. Hécate Kourotrophos cuida das crianças durante a vida intrauterina e no seu nascimento, assim como fazia sua antecessora egípcia, a parteira divina Heqet. Possuidora de uma aura fosforescente que brilha na escuridão do mundo subterrâneo, Hécate Phosphoros é a guardiã do inconsciente e guia das almas na transição, enquanto as duas tochas de Hécate Propolos, apontadas para o céu e a terra, iluminam a busca da transformação espiritual e o renascimento, orientado por Soteira, a Salvadora. Como Deusa lunar Hécate rege a face escura da Lua, Ártemis sendo associada com a lua nova e Selene com a Lua Cheia. 

   No ciclo das estações e das fases da vida feminina Hécate forma uma tríade divina juntamente com: Kore/Perséfone/Proserpina/Hebe - que presidem a primavera, fertilidade e juventude -, Deméter/Ceres/Hera – regentes da maturidade, gestação, parto e colheita - e o Seu aspecto Chtonia, Deusa Anciã, detentora de sabedoria, padroeira do inverno, da velhice e das profundezas da terra. Hécate Trivia e Trioditis, protetoras dos viajantes e guardiãs das encruzilhadas de três caminhos, recebiam dos Seus adeptos pedidos de proteção e oferendas chamadas “ceias de Hécate”. Propylaia era reverenciada como guardiã das casas, portas, famílias e bens pelas mulheres, que oravam na frente do altar antes de sair de casa pedindo Sua benção.As imagens antigas colocadas nas encruzilhadas ou na porta das casas representavam Hécate Triformis ou Tricephalus como pilar ou estátua com 3 cabeças e 6 braços que seguravam suas insígnias: tocha (ilumina o caminho), chave (abre os mistérios), corda (conduz as almas e reproduz o cordão umbilical do nascimento), foice (corta ilusões e medos).
   
  Devido à Sua natureza multiforme e misteriosa e à ligação com os poderes femininos “escuros”, as interpretações patriarcais distorceram o simbolismo antigo desta Deusa protetora das mulheres e enfatizaram Seus poderes destrutivos ligados à magia negra (com sacrifícios de animais pretos nas noites de lua negra) e aos ritos funerários. Na Idade Média, o cristianismo distorceu mais ainda seus atributos, transformando Hécate na “Rainha das Bruxas”, responsável por atos de maldade, missas negras, desgraças, tempestades, mortes de animais, perda das colheitas e atos satânicos. Estas invenções tendenciosas levaram à perseguição, tortura e morte pela Inquisição de milhares de “protegidas de Hécate”, as curandeiras, parteiras e videntes, mulheres “suspeitas” de serem Suas seguidoras e animais a Ela associados (cachorros e gatos pretos, corujas, serpentes, aranhas).
  No intuito de abolir qualquer resquício do Seu poder, Hécate foi caricaturada pela tradição patriarcal como uma bruxa perigosa e hostil, à espreita nas encruzilhadas nas noites escuras, buscando e caçando almas perdidas e viajantes com sua matilha de cães pretos, levando-os para o escuro reino das sombras vampirizantes e castigando os homens com pesadelos e perda da virilidade. As imagens horrendas e chocantes são projeções dos medos inconscientes masculinos perante os poderes “escuros” da Deusa, padroeira da independência feminina, defensora contra as violências e opressões das mulheres e regente dos seus rituais de proteção, transformação e afirmação.
   
  No atual renascimento das antigas tradições da Deusa compete aos círculos sagrados femininos resgatar as verdades milenares, descartando e desmascarando imagens e falsas lendas que apenas encobrem o medo patriarcal perante a força mágica e o poder ancestral feminino. Em função das nossas próprias memórias de repressão e dos medos impregnados no inconsciente coletivo, o contato com a Deusa Escura pode ser atemorizador por acessar a programação negativa que associa escuridão com mal, perigo, morte. Para resgatar as qualidades regeneradoras, fortalecedoras e curadoras de Hécate precisamos reconhecer que as imagens destorcidas não são reais, nem verdadeiras, que nos foram incutidas pela proibição de mergulhar no nosso inconsciente, descobrir e usar nosso verdadeiro poder.
   
   A conexão com Hécate representa para nós um valioso meio para acessar a intuição e o conhecimento inato, desvendar e curar nossos processos psíquicos, aceitar a passagem inexorável do tempo e transmutar nossos medos perante o envelhecimento e a morte. Hécate nos ensina que o caminho que leva à visão sagrada e que inspira a renovação passa pela escuridão, o desapego e transmutação. Ela detém a chave que abre a porta dos mistérios e do lado oculto da psique; Sua tocha ilumina tanto as riquezas, quanto os terrores do inconsciente, que precisam ser reconhecidos e transmutados. Ela nos conduz pela escuridão e nos revela o caminho da renovação. Porém, para receber Seus dons visionários, criativos ou proféticos, precisamos mergulhar nas profundezas do nosso mundo interior, encarar o reflexo da Deusa Escura dentro de nós, honrando o Seu poder e Lhe entregando a guarda do nosso inconsciente. Ao reconhecermos e integrarmos Sua presença em nós, Hécate irá nos guiar nos processos psicológicos e espirituais e no eterno ciclo de morte e renovação. Porém, devemos sacrificar ou deixar morrer o velho, encarar e superar medos e limitações; somente assim poderemos flutuar sobre as escuras e revoltas águas dos nossos conflitos e lembranças dolorosas e emergir para o novo.
Mirela Faur

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Anjo mais Velho





Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete, a cena se inverte
Enchendo minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
Tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar".

[O Teatro Mágico - O Anjo Mais Velho]

sábado, 4 de agosto de 2012

A Moça Tecelã




"Acordada ainda no escuro, como se houvesse o sol chegado atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se no tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto la fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidados de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo , chapéu emplumado, rosto barbeado, corpo emprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, por algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
– Uma casa melhor é necessária – disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. - Por que ter casa, se podemos ter palácio? - Perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates de prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal, o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
– É para que ninguém saiba do tapete – disse. E antes de trancar a porta a chave advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própia trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça para não fazer barulho, subiu a longa escada do torrre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a defazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou, e espantado olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe o corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."
                                                                                        Marina Colasanti
                                                                                          in: A Moça Tecelã

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Marisa Monte - Ainda Bem

Ainda Bem
(de Arnaldo Antunes e Marisa Monte)
Ainda bem
Que agora encontrei você
Eu realmente não sei
O que eu fiz pra merecer
Você
Porque ninguém
Dava nada por mim
Quem dava, eu não tava a fim
Até desacreditei
De mim
O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão
Quem diria que a meu lado
Você iria ficar
Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim
O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão
Tinha sido maltratado
Tudo se transformou
Agora você chegou
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim
O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão
Quem diria que a meu lado
Você iria ficar
Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim
O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão
Tinha sido maltratado
Tudo se transformou
Agora você chegou
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim
Ainda bem

         

Borboletas Negras




   Borboletas Negras - Black Butterfiles (2011) o filme conta a história de Ingrid Jonker , escritora sul-africana que viveu na época do Apartheid – regime de segregação racial vigente de 1948 a 1994. E tornou-se conhecida ao mundo, da leitura de seu poema político “A Criança que foi Assassinada pelos Soldados de Nyanga”, por Nelson Mandela em seu primeiro discurso como presidente da África do Sul.
   Ingrid Jonker nasceu em 19 de setembro de 1933, residia na cidade do Cabo e desde os seus 6 anos de idade escrevia poemas no idioma afrikaans. Sua vida foi marcada pela difícil relação com o pai, Abraham Jonker, que não reconhecia seu talento literário, além de rejeitá-la. Como membro do Partido Nacional do Parlamento, ele era um dos responsáveis pela manutenção do Apartheid  (censor direto de publicações, arte e entretenimento) enquanto, Ingrid lutava contra o governo segregacionista,  sua própria genialidade e loucura. Tornou-se maníaca depressiva, e sua existência foi marcada pelos efeitos disso. Internada numa clínica psiquiátrica em Valkenberg, em 1961 recebeu tratamento de eletrochoque.
   Em 1956 casou-se com Pieter Venter, e teve uma filha, Simone. Mas, logo se divorciou e passando a se envolver com outros homens. Dos quais, os escritores Jack Cope e André P. Brink. Cope (bem mais velho que ela) é o seu grande amor, de quem engravidou e decidiu por fazer um aborto. Brink foi responsável pela tradução do livro Black Butterflies: Selected Poems (2007), juntamente com o colega Antjie Krog. Porém, nunca mais foi a mesma, após passagem por clínica psiquiátrica em Valkenberg, (1961) onde recebeu tratamento de eletrochoque.

   A direção do longa ficou por conta de Paula Von der Oeif que se inspirou em documentário anterior, holandês. Ao interpretar a poetisa Ingrid Joker, a atriz Carice van Houten foi a grande vencedora nessa categoria no Festival  de Tribeca 2011. No filme, ainda podemos ver os atores Ruther Hower (seu pai) e Liam Cunningham (como Jack Cope).
Borboletas Negras: Carice van Houten e Liam Cunningham

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Cinderela


  Neste mês (Agosto) a Disney lançará o "clássico Cinderela" em Blu-ray Diamond Edition; porém numa versão comtemporânea. E para tal, foi criado por Christian Louboutin o que seria o "sapatinho de cristal" no mundo real!

Esboço do "sapatinho de cristal" by Louboutin
 Segundo o designer: “Cinderela não é só um personagem icônico quando o assunto é beleza, graça e amor de conto de fadas, mas também, quando o assunto é sapato”.

Foram elaborados 20 pares dessa verdadeira obra de arte, inspirado no conto infantil, e os mesmos serão exibidos em exposições e na divulgação do filme pelo mundo à fora.


"Sapatinho de Cristal" - versão real by Louboutin


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