domingo, 4 de dezembro de 2016

Andar de Cima: Ferreira Gullar



    O poeta, escritor, teatrólogo, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar morreu na manhã deste domingo (4) no Rio, aos 86 anos, vítima de uma peneumonia. Gullar é um dos maiores autores brasileiros do século 20, eleito 'imortal' da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2014; tornando-se o sétimo ocupante da cadeira nº 37.

    Considerado como o maior poeta vivo da literatura brasileira e um dos nomes mais importantes de nossas letras, José Ribamar Ferreira iniciou sua carreira no ano de 1940, em São Luís, Maranhão, sua cidade natal. Em 1951 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde colaborou com diversas publicações, entre elas revistas e jornais, além de ter participado ativamente da criação do movimento neoconcreto; sendo que sua poesia sempre se destacou  pelo engajamento político. Gullar fez da poesia um importante instrumento de denúncia social, especialmente na produção dos anos de 1950, 1960 e 1990, haja vista que, posteriormente, o poeta tenha reconsiderado antigos posicionamentos.

   Sua poética engajada ganhou força a partir dos anos de 1960 quando, ao romper com a poesia de vanguarda, aderiu ao Centro Popular de Cultura (CPC), grupo de intelectuais de esquerda criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista. Perseguido pela ditadura militar, Ferreira Gullar exilou-se na Argentina durante os anos de repressão, exílio provocado pelas fortes tensões psíquicas e ideológicas encontradas em sua obra. 

    A importância do poeta foi reconhecida tardiamente, na década de 1990, quando finalmente; foi agraciado com os mais importantes prêmios literários de nosso país. Em 2014, tornou-se um 'imortal' da (ABL). Sua última obra foi Autobiografia Poética e Outros Textos, lançado este ano.

   Publicado em 1976, Poema Sujo é considerada a obra mais ousada de Ferreira Gullar. Produzido no exílio, em Buenos Aires, surgiu da necessidade de, como ele mesmo afirmou, "escrever um poema que fosse o meu testemunho final, antes que me calassem para sempre". Numa época de forte repressão política, Gullar sentia-se acossado pela ânsia de rememorar o passado e a dificuldade de expressar, em linguagem poética, o universo interior, o que transparece, logo nos primeiros versos, no nível formal do texto:


Poema Sujo
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: [menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? Como pluma? Claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem
sonhando [desde as entranhas


             


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