Andaram em silêncio mais dois dias. O Alquimista estava muito mais cauteloso, porque se aproximavam da zona de combates mais violentos. E o rapaz procurava escutar seu coração.
Era um coração difícil; antes estava acostumado a partir sempre, e agora queria
chegar a todo custo. Às vezes, seu coração ficava muitas horas contando
histórias de saudades, outras vezes se emocionava com o nascer do sol no
deserto, e fazia o rapaz chorar escondido. O coração batia mais rápido quando
falava para o rapaz sobre o tesouro e ficava mais vagaroso quando os olhos do
rapaz se perdiam no horizonte sem fim do deserto. Mas nunca estava em silêncio,
mesmo que o rapaz não trocasse uma palavra com o Alquimista.
– Meu coração é agitado – disse o rapaz. – Tem sonhos, se emociona, e está
apaixonado por uma mulher do deserto. Ele me pede coisas e não me deixa dormir
muitas noites, quando penso nela.
– É bom. Seu coração está vivo.
Nos três dias seguintes os dois passaram por alguns guerreiros, e viram outros
guerreiros no horizonte. O coração do rapaz começou a falar sobre o medo.
- Por que devo escutar meu coração?
– Porque você não vai conseguir jamais mantê-lo calado. E mesmo que finja não
escutar o que ele diz, ele estará dentro do seu peito, repetindo sempre o que
pensa sobre a vida e o mundo.
– Mesmo que ele seja traiçoeiro?
– A traição é o golpe que você não espera. Se você conhecer bem seu coração,
ele jamais conseguirá isto. Porque você conhecerá seus sonhos e seus desejos, e
saberá lidar com eles.
in: O Alquimista by Paulo Coelho
in: O Alquimista by Paulo Coelho
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