quinta-feira, 7 de março de 2013

Mais um incentivo


   Precisando de mais um incentivo para começar a sua faxina? Segue o texto muito bem elaborado de Adriana Falcão, Dia de Faxina.
  
   "Logo para começar, a melhor coisa a fazer é varrer toda essa raiva da frente.

   A raiva do semelhante, do distinto, do consorte, de nós mesmos. A raiva dos mais queridos, dos desafetos, dos inimigos, dos cretinos, dos boçais, dos corrompidos, dos coitados. Do destino. Do passado. Do presente. Do ausente. Da falta de sorte, da falta de tempo, da falta de estímulo, da falta de grana. Do desgraçado do chefe, do empregado, do salário, da injustiça. Do revés, do obstáculo. Da inércia. Da ausência de horizontes.
   A raiva do amor. Da falta de amor. Do desgosto. A raiva do mundo inteiro. E ainda a raiva da raiva, coitada, que não tem culpa de nada, só pratica seu ofício, é apenas sentimento.
   É bom espanar com vigor a raiva que pulsa, sobe, explode e pinga. Então dá-se uma varredura geral naquelas guardadas, cultivadas, conservadas ou escondidas, embaixo de algum tapete.

   Dito que a raiva cega, assim que ela é afastada pode-se então enxergar mais fundo. é hora de vasculhar as mágoas.

                                            Imagem/fonte:Net

  Certamente encontraram antiguidades. As mágoas da infância, mesmo as motivadas por tolices, são as mais enraizadas. Arranca-se tudo. Em seguida aparecem as apaixonadas, dos tempos de juventude: invejas, ciúmes, traições, feridas mal cicatrizadas, tudo muito exagerado. Estas têm uma vantagem: muitas são munidas de êxtases, "big-bangs" adolescentes. Foram devidamente expelidas desde quando apareceram, portanto já se desagregaram da alma, o que sobrou é fragmento. Pouco. Resto.
   Mas as mágoas mais recentes, as que permanecem alertas e continuam se alastrando, são veneno. Contaminam. Por isso é tão necessário que sejam mexidas com toda cautela possível. Depois de identificadas, todas as mágoas, sem exceção; devem ser exterminadas. Recomenda-se muito fogo para reduzir às cinzas tudo que indiretamente ficou lá atrás, enclausurado.

   Antes de dar cabo das frustrações que foram ficando incrustadas na gente, convém organizá-las para devida apreciação. Cada método de organização tem suas vantagens e desvantagens. As frustrações podem ser selecionadas por ordem alfabética, cronológica ou de importância (o critério - "importância", além de ser bastante discutível, também é fadado a alterações circunstanciais, às vezes súbitas) ou podem ficar misturadas, uma vez que fazem parte do mesmo tipo de sentimento: dor. De uma forma ou de outra é indicado, sendo assim, afastarmos seus fantasmas.

   Chegamos agora às culpas. Terreno perigoso. Cheio de armadilhas.

   Há muitos tipos de culpas: as parasitas, as vampiras, as moluscas, as gulosas, as teimosas, as dissimuladas. Há aquelas que assumimos sabendo que não são nossas, as que nos submeteram, nos enfiaram goela adentro e, humildes incorporamos. Já viraram patrimônio. Estão entranhadas no corpo.
  
   Há as que já nasceram para nos estragar o dia. Muitos dias. Meses. Anos. São as que nos fazem sentir causa, razão, motivo, estopim,bomba. Ah, como estas atormentam! Visto que a culpa é moléstia, neste ponto da faxina; é imprescindível uma aniquilação geral e irrestrita, sem possibilidade de anistia alguma.

   Deletadas as raivas, mágoas, frustrações e culpas caducas é então que ele surge, com seu jeito impávido: o cerne do sofrimento, origem da amarguras, principal culpado da bagunça - o medo. Como uma pérola dentro da ostra.
  
   O medo de morrer, o medo de viver. O medo de ganhar. O medo de crescer, agir, sofrer, querer, transformar. O medo de se encontrar.

   Ele é o monstro, é o demônio, o desterro.
   Dá o fora, medo!
   Queremos a alma limpa e  arrumada."

Texto: Dia de Faxina de Adriana Falcão.
Fonte: jornal O Estado de São Paulo (25.12.2009).


    Sempre é bom fazer também, uma faxina básica no coração... Desentulhar seja onde for:

                                                         Imagem/fonte:Net


ABRE-SE ESPAÇO PARA O NOVO!

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