quinta-feira, 2 de julho de 2015

Aprender a Ver é...



Habituar os olhos à calma, à paciência,
ao deixar que as coisas se aproximem de nós;
aprender a adiar o juízo, a rodear e
a abarcar o caso particular a partir de todos os lados.
Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito:
não reagir imediatamente a um estímulo,
mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam.
Aprender a ver, tal como eu o entendo,
é já quase o que o modo a filosófico de falar denomina vontade forte:
o essencial nisto é, precisamente, o poder não querer, o poder diferir a decisão.
Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade
descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo
tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos.
Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento,
quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de vício
é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir.
Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver: enquanto discente em geral,
chegar-se-á a ser lento, desconfiado, teimoso.
Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o
à aproximar-se com uma tranquilidade hostil,
afasta-se dele a mão.
O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o fato pequeno,
o estar sempre disposto a meter-se,
a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas,
em suma, a famosa objetividade moderna é mau gosto,
é algo não-aristocrático por excelência.
In: Crepúsculo dos Ídolos, Friedrich Nietzsche
 

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