Aine (pronuncia-se Onyá ou Oine, do irlandês [ˈaːnʲə]) é uma Deusa arcaica da Irlanda, originariamente uma Deusa solar, soberana da luz, da fertilidade da terra e do amor, cujo nome significa “prazer, alegria, esplendor”, celebrada no Solstício de Verão e que sobreviveu às perseguições cristãs ao ser transformada nas lendas em uma “Fada Rainha”.
Apesar de Deusa tutelar da província de Munster do Sudeste
da Irlanda, muito pouco foi preservado das suas lendas; mesmo assim o seu culto
perdurou até o século 20 mas ela jamais foi santificada ou mencionada pela
igreja cristã. Os costumes a ela associados continuaram até 1970, preservando
sua autêntica essência pagã, os camponeses caminhando com tochas acesas pelos
campos plantados invocando o calor e a luz de Aine para a abundância das
colheitas. As mulheres idosas queimavam ervas aromáticas para purificar as
casas e afastar as doenças.
Irmã gêmea de Grian, a “Rainha dos Elfos”, Aine também foi
considerada como um dos aspectos da Deusa Mãe celta Ana, Anu, Danu ou Don.
Grian e Aine alternavam-se na regência do ciclo solar na Roda do Ano, trocando
de lugar a cada solstício.
Rainha dos reinos encantados, ela é a Deusa do amor, da
fertilidade e do desejo. É filha de Danu, e esposa e algumas vezes filha de
Manannan Mac Lir, e mãe de Earl Gerald. Como feiticeira poderosa, ela tinha o
poder de metamorfose, se transformando tanto em um cisne branco, quanto em uma
égua vermelha de nome Lair Derg, e que ninguém conseguia alcançá-la.
A mensagem que Aine traz para as mulheres atuais é acreditar
no seu próprio poder, firme e forte, mas envolto na cor diáfana da suavidade
amorosa. Ela nutre o corpo e o espírito com calor e luz, sendo protetora da
natureza vegetal, animal e humana. Aine confere fertilidade física, mental e
espiritual, apoia e incentiva o alcance dos sonhos e ambições com palavras que
poderiam ser resumidas nesta frase: ”arrisque-se e coloque o desejo do seu
coração em ação!”. Mesmo quando os planos iniciais não se concretizaram, a
mulher deve seguir adiante, com coragem e confiança, sem permitir que opiniões
e movimentos alheios impeçam a busca dos seus objetivos. Ficar parada ou
lamentar perdas e fracassos não leva a nada e o tempo passa sem perceber,
deixando para trás lamentos, remorsos e inação. São as perdas e fracassos do
passado que nos ensinam a viver melhor, não se pode julgar uma decisão passada
com o discernimento do presente, pois as decisões são tomadas com a consciência
do momento. É importante saber qual é a missão que a mulher veio realizar no
mundo e se empenhar para cumpri-la, com todas as suas forças. “Confiar, se
preparar e agir” é o legado deixado por Aine para as mulheres; após ter
refletido, tomado uma decisão e estabelecido um plano de ação, deve ser dado
inicio ao caminho escolhido, com pequenos e cautelosos passos, sem parar,
titubear ou recuar. Com a ajuda de Aine, as mulheres podem resgatar, diversificar
e expressar o ilimitado potencial da natureza e essência feminina.
Relatos históricos
Aine foi mencionada pela primeira vez em 890-910 no dicionário
Sanas Cormaic com explicações em latim da etimologia dos termos irlandeses.
Mais tarde, apareceram menções no século XII no livro Táin Bó Cúailnge e no
século XV em Cath Finntrágha sobre a relação da Deusa com os cairns e
resquícios neolíticos encontrados em duas colinas, perto de Lough Gur,
consagradas à Deusa, onde ainda hoje ocorrem ritos em honra à Deusa Aine. Uma
colina, a três milhas a sudoeste do lago é chamada Knockaine (em homenagem à
deusa) e lá se encontra uma pedra que confere inspiração poética a seus devotos
merecedores e leva à loucura àqueles que forem punidos pela falta de respeito
com os lugares sagrados. Do topo da colina podem ser avistados inúmeros locais
associados com seres míticos, detalhes topográficos do mito de Aine (como os castelos
dos reis) e das batalhas reais entre conquistadores e nativos.
Triplicidade
Como Deusa tríplice, sua face de Donzela era tanto generosa,
quanto vingativa, recompensando os devotos com o presente da inspiração poética
ou os punindo com a loucura, se tivesse sido ofendida ou menosprezada. Ela era
invocada geralmente para ajudar, mas se fosse desrespeitada, a sua vingança não
tardava.
Como Mãe, era associada aos lagos e poços sagrados, cujos
mananciais possuem poderes curativos, a fonte dedicada a ela Tobar-na-Aine era
renomada pelos poderes curativos. A sua intensa sexualidade a tornou inimiga da
igreja cristã, sendo vista como uma ameaça ao matrimônio e à castidade. Mesmo
que o simbolismo relacionado com a Deusa Mãe tenha sido esquecido quase por
completo desde que começaram os ritos cristãos nas igrejas, o ato de invocação
da vida nunca enfraqueceu e ela era reverenciada como protetora da gravidez e
das mulheres, punindo aqueles que as tivessem ofendido, agredido, perseguido ou
violentado.
Como Deusa Escura e regente do teixo, Aine era considerada a
“Anciã de Knockaine”, caridosa com aqueles que lhe pediam ajuda, mas vingativa
com quem a explorava pela má fé. Por ser uma Deusa detentora do poder da vida e
da morte, Aine podia aparecer para os homens como uma mulher sábia de rara
beleza, qualificada como sidhe leannan, ou seja, “uma amante-fada-fatal” que
exercia tal atração sobre os homens, que eles sucumbiam aos seus encantos e
muitas vezes não sobreviviam. As mais dramáticas e poéticas histórias do
folclore celta são as que relatam o amor entre mortais e os seres
sobrenaturais, mas que não perduram devido a certos tabus, maldições,
diferenças de vibrações e costumes. Acredita-se que a “amante-fada-fatal” ainda
se manifesta nos dias de hoje e quando escolhe um homem mortal, este está
fadado à morte certa, pois esta é a única maneira viável para que os dois
possam ficar juntos e concretizar seu grande amor.
No Sabbat Samhain dizia-se que Aine saia das suas colinas
cavalgando um touro vermelho e era reverenciada com fogueiras acesas em todas
as colinas sagradas. Sendo associada com os Sabbats, Aine podia se manifestar
como a Donzela da primavera, a Mãe das colheitas e a Anciã do mundo
subterrâneo. Como Donzela aparecia também como uma sereia, que penteava seus
longos cabelos com um pente de ouro na margem do lago, continuando a fazer isso
até o pente ia ser gasto e seu cabelos ficando brancos. Nos dias dedicados a
Aine era proibido derramar sangue, para que a centelha vital não se esvaísse do
corpo de outros animais ou doentes. Às vezes ela era vista numa barco junto com
seu pai Manannan ajudando os marinheiros perdidos. Durante a grande fome
ocasionada pela crise irlandesa das batatas, Aine aparecia no topo da sua
colina entregando comida para os famintos.
Aine era invocada no Solstício de Verão na colina de
Knockaine para ritos de amor, fertilidade e abundância das colheitas,
prosperidade das pessoas, separações e desfechos dolorosos nas relações
amorosas. Ela ampliava a visão e podia facilitar o contato com o mundo das
Fadas, potencializando os poderes mágicos e extrassensoriais. Os camponeses
saiam em procissão após acenderem as fogueiras na sua colina e caminhavam pelos
campos com tochas acesas, feitas com feixes de palhas e ervas solares amarrados
em postes. Eles purificavam os campos e o gado com as chamas, pedindo proteção
e fertilidade e esperavam que Aine e os Sidhe aparecessem para eles, abrindo um
portal para o Outro Mundo. As cinzas das fogueiras eram espalhadas depois nos
campos para atrair fertilidade.
As mulheres idosas honram ainda Aine no Samhain e Litha e
queimam ervas aromáticas para purificar as casas e afastar as doenças. Elas
acreditam que foi Aine que impregnou o aroma nas flores e frutos e que seu
brilho aquece os corpos e ilumina as almas.
Há controvérsias a respeito da sua origem, alguns
pesquisadores a consideram filha de Eogabail, um rei dos seres míticos Tuatha
de Dannan, que teria sido o filho adotivo do deus do mar Manannan Mac Lir,
outras vezes como sendo esposa e algumas vezes filha dele. Como Rainha dos
reinos encantados Aine pertencia aos Tuatha de Dannann e aos Sidhe e era
conhecida como Lenan Sidhe, a amada ou Ain Cliar, a luminosa. Inúmeros lugares
eram dedicados a Aine na Irlanda como Knoc Áine (Condado de Limerick), Tobar
Áine (Condado de Tyrone), Dun Áine (Condado de Louth), Lios Áine (Condado de
Derry). Com o nome de Aine Marine e Aine of Knockaine, ela é associada com Knoc
Aine/Knockaine, a sua colina em Munster. Na literatura ela foi descrita como
uma “Rainha das Fadas”, a mais famosa sendo Titânia, da peça “O sonho de uma
noite de verão” de Shakespeare.
Existem muitas lendas sobre as escapadas amorosas de Aine,
às vezes ela casava com jovens vigorosos e tinha filhos “encantados”, que dela
recebiam o poder de ver o “Povo das Fadas” com a ajuda de um anel mágico.
Quando ela se apaixonou pelo jovem e belo herói Fionn, ela jurou que jamais
iria amar um homem com cabelos grisalhos. Mas uma das suas irmãs também amava
Fionn e através de um encantamento conseguiu que seus cabelos ficassem
grisalhos, mesmo ele continuando jovem. Fiel à suageasa (promessa mágica) Aine
afastou o herói.
Segundo outra, entre tantas lendas, conta que Aine estava
sentada nas margens do lago Lough Gur, penteando seus longos cabelos dourados,
quando Gerold, o Conde de Desmond, a viu e sentindo-se fortemente atraído por
ela, roubou-lhe o manto dourado e só o devolveu, quando ela concordou em
casar-se com ele. Desta união nasceu Geroid Iarla ou Earl Gerald, denominado “O
Mago”; após o nascimento do menino, Aine impôs ao Conde Desmond, um tabu que o
impedia expressar surpresa a qualquer coisa que o filho fizesse. Entretanto,
ele quebrou tal tabu, exclamando alto quando viu o filho entrando e saindo de
um frasco, fato que desfez o encanto e Aine recuperou sua liberdade. Aine
dirigiu-se para a colina de Knockaine, transformando-se em um cisne; dizem que
é lá que ela ainda reside em seu castelo encantado, cercada por Fadas. Em outra
versão, ela se recolheu na ilha Garrod no lago Lough Gur no condado de Limerick
e Gerald depois transformou-se em um ganso selvagem que voou alto seguindo o
rio Lough, encontrando repouso no castelo da mãe.
Outra lenda descreve como Gerald vivia abaixo das águas do
lago, de onde saia cada sete anos cavalgando ao redor do lago até gastar as
ferraduras de prata do seu cavalo, dia em que ele voltará para expulsar
estrangeiros e malfeitores da Irlanda. Dizia-se também que de sete em sete anos
ele emergia das águas como um fantasma montado em um cavalo branco; o lago
sumia dentro da terra aparecendo no seu lugar uma árvore sobrenatural, coberta
com tecidos verdes e guardada por uma anciã, que tinha o poder de elevar as
águas do lago se a árvore corresse perigo.
Em outra lenda, o rei Ailill matou Egbal, o pai de Aine e a
violentou, mas ela relutou e arrancou sua orelha, o que lhe ocasionou o apelido
de Ailill-sem-orelha. Aine jurou se vingar e após um tempo, Ailill foi morto
por ela com uma poderosa magia, da mesma forma como se vingou de outro rei, que
também a ofendeu. Seu filho Egan – que nasceu após ela ser violentada por
Aillil – se tornou rei de Munster e fundador de uma famosa dinastia. Muitas famílias
de Munster com o sobrenome de O’Corra ainda acreditam que são descendentes de
Aine, por eles venerada como a melhor e mais bondosa Deusa.
Invocações
Senhora das Colinas, Filha do mar, Rainha radiante das
Fadas,
Linda Aine Brilhante, Aine Chlair, que rege o calor do
verão,
Venha a nós, estenda teu manto dourado e nos abençoe.
Deusa que ilumina os caminhos e orienta nossos passos
Traga alegria e harmonia para nossos corações,
Lavaremos nossos rostos com nove raios do sol
Encontraremos a paz envoltas pelo manto dourado de Aine,
Seremos abençoados ao acordar e quando deitar.
Durante o dia e à noite, quando chegarmos e sairmos,
A luz estará na nossa frente, atrás de nós, dentro de nós e
fora de nós,
Pois o manto dourado de Aine Cil sempre nos envolverá.
Senhora da Luz, nós te louvamos,
Te reverenciamos e sempre respeitaremos o teu legado!
Aine, Grande Deusa da Irlanda Deusa da Lua, do amor
Encorajadora da paixão no coração dos homens
Invoco o teu poder, vem até mim Rainha das Fadas de Munster
Tu que governas a agricultura, a fertilidade, as colheitas e
os animais Sol dourado que se transforma em Lair Derg,
A égua vermelha que ninguém pode domar,
Me ensina teus mistérios, compartilha comigo tua sabedoria
Tu que és a Mãe, mostrando tua face curadora nos lagos e fontes
Tu que és a Anciã, Leannan Sidhe, que aparece aos mortais
com tua grande beleza
Para levá-los ao Outro Mundo.
Eu te invoco Aine, Grande Mãe
Toque a cabeça dos meus filhos para crescerem fortes
Deixe teu pó dourado cobrir meus lábios
Para atrair os beijos do meu amado
Pare a mão daqueles que cortam as árvores,
Ajude-os a descobrir como tornar a terra verde
Fortalece a mão de quem planta sementes
Nos campos e terras áridas.
Ajuda as flores a se transformarem em frutos
Que sejam degustados por todos com gratidão por Ti
Faça ouvir teu canto suave até os cantos remotos da Terra
Nutra as águas da minha alma
Toque-me com Tua sabedoria
Ao despertar em cada dia
Para que a luz do teu brilho
Desperte a minha luz interior
Abençoada sejas Aine Deusa dourada!
Curiosidades
Existem duas colinas, perto do lago Lough Gur no condado de
Limerick na Irlanda, consagradas à Aine e a Grian, onde ainda hoje ocorrem
ritos em honra à Aine. Uma, a três milhas a sudoeste, é chamada Knockaine
(monte de Aine), em homenagem a esta Deusa. Conta-se que nessa colina há uma
pedra que dá inspiração poética a seus devotos meritórios e a loucura à aqueles
que são por Ela rejeitados. A festa do Solstício de Verão, data dedicada Aine,
depois da Cristianização, pode ser vista como a festa de São João.
A ela também é dedicada uma fonte chamada Tobar-na-Aine, no
condado de Tyrone em Ulster na Irlanda do Norte, renomada pelos poderes
curativos.
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