quarta-feira, 24 de setembro de 2014

'Astrologia Celta'




   Os Celtas existiram a mais de 2000 a.C., período este correspondente a Idade de Bronze; difundindo-se pela maior parte da Europa central e ocidental, até a Ásia Menor, em diversas ondas com grande expansão na Idade de Ferro. Conhecidos, principalmente por suas habilidades de luta, orgulho e encorajamento, sua cultura também, é provida de riquezas artesanais, trabalhadas em objetos que vão de armas, passando por carros e jóias. Por costume tribal, seus conhecimentos eram transmitidos de forma oral, através de poetas e do grupo que coexistia harmonicamente, com eles - os Druidas.

    Por isso, quando se fala em 'astrologia celta', erroneamente, se refere a um 'horóscopo druídico', na verdade inventado pelo escritor britânico Robert Graves - inspirado por seu estudo tido como superficial sobre o Ogham (sistema de escrita druídica), e publicado em um ensaio poético intitulado A Deusa Branca de 1946.  Que graças, a alguns autores modernos popularizou-se como 'O Calendário das Árvores Graves' mas, não tem relação com qualquer calendário histórico celta. O sistema de astrologia celta era praticado pelos antigos Celtas, e pouco se sabe sobre ele - tal qual descrito em alguns manuscritos irlandeses antigos; parece que nenhum deles foi publicado ou sequer, totalmente traduzido. No entanto, acredita-se serem baseados em um sistema de símbolos tribais; envolvendo animais/deidades e a 'roda do ano',  bem diferente dos sistemas astrológicos popularmente conhecidos. Uma breve abordagem nos leva a alguns possíveis aspectos que corresponderiam ao sistema de signos do povo Celta.

* Sidellu Gwynder (1 de Janeiro a 22 de Janeiro) - Significa algo como 'brancura rodopiante' e está relacionado com o meio do Inverno. É representado sob a forma do hircocervo - animal mítico que reúne as semelhanças de um veado e de um carneiro. Segundo as tradições antigas, este animal abençoado é portador de sorte e de força interior e concerne os dons da graça, da beleza, da vitalidade, e atrai as atenções do sexo oposto.
* Imbolc (23 de Janeiro a 13 de Fevereiro) - Brighid, uma das deusas mais amadas pelos povos celtas, é a personificação da Deusa Tríplice, celebrada pela altura do Imbolc, no início de Fevereiro. As suas três facetas são representadas pela curandeira, a ferreira e a poetisa, sendo designada no seu todo como 'Deusa da Tripla Chama', pois é o Fogo que aquece o caldeirão, alimenta a fornalha e incendeia a paixão nos poetas. A presença de Brighd faz-se sentir até hoje através do culto a Santa Brígida da Irlanda. Imbolc traz consigo a pureza do Inverno, juntamente com a luz e a beleza da próxima estação, a Primavera.

* Cŵn Annwn (14 de Fevereiro a 8 de Março) - São os Cães do Submundo que aparecem no folclore e nas lendas do Mabinogion. Demonizados depois da colonização cristã, os Cães são frequentemente retratados de forma feroz, uivando pela noite em temíveis caçadas e levando as almas para a morte. Até hoje considera-se um mau presságio, quando os cães uivam a noite... No entanto, o pensamento celta não entendia a morte desta forma, e os Cães tinham muito mais a função de guias e de companheiros do que de predadores. Algumas reminiscências passaram até à atualidade através do culto a S. David, celebrado a 1 de Março. Segundo a tradição cristã, S. David também era um guia para a morte, pois recebia visões que o avisavam do falecimento iminente de um membro da comunidade. O religioso partia então para casa dos familiares, para os preparar psicologicamente e para ajudar o moribundo na sua travessia. Cŵn Annwn ajudam à compreensão dos grandes mistérios, a ultrapassar perdas e a ter segurança em cada passo.
* Alban Eiler (9 de Março a 31 de Março) - Corresponde ao equinócio da Primavera, fase personificada pela Virgem, noiva do Deus-sol. Na sua forma de cisne é símbolo de pureza e beleza. Alban Eiler concede os dons da leveza, da elegância e da nobreza.
 
* Tŵr Tewdws (1 de Abril a 23 de Abril) - A ascensão das Pleiades ou Tŵr Tewdws, marca a chegada das chuvas de Abril, um momento muito significativo para as antigas sociedades agrárias. Estas sete estrelas, chamadas de as  'Sete Sacerdotisas' eram um foco importante das práticas mágicas nesta época do ano. Tŵr Tewdws concede os dons da força espiritual, da integridade, do discernimento e da liberdade.

* Beltane (24 de Abril a 16 de Maio) - Período regido por Bel, deus Celta da Luz. Beltane (= Fogo de Bel'), sendo celebrado com festas exuberantes e fogueiras. O objetivo dos rituais da época é, sobretudo, o de exaltar a energia da Terra e garantir a fertilidade de todos os seres (plantas, gado e homens). Beltane é retratado como um Dragão que concede os dons da vitalidade, prosperidade e do poder pessoal.
* Sidhe (17 de Maio a 8 de Junho) - Refere-se ao Povo das Fadas, uma espécie distinta da humana que, segundo a Tradição Celta, seria descendente dos míticos Tuatha De Danann que foram derrotados em batalha pelos mortais, e assim forçados a abandonar a Irlanda. Reza a lenda que passaram a habitar o interior da terra; deixando como sinal da sua presença pequenas colinas (os sidhe) espalhados pela paisagem. O Povo das Fadas é celebrado no final da Primavera, altura em que é mais frequente observar as estranhas luminescências que emanam das 'colinas mágicas'. Sidhe concede os dons da magia, do encantamento e da visão interior.

 * Litha (9 de Junho a 1 de Julho) - Também chamado Alban Hefin e Gŵyl Ganol yr Haf, refere-se ao solstício de Verão e ocorre por volta do dia 21 de Junho no hemisfério Norte. É o dia mais longo do ano, representado pelo êxtase do deus-Sol antes de iniciar o seu declínio. Este dia é celebrado por muitos neo-pagãos que se deslocam a lugares como Stonehenge para observar o nascer do sol entre as pedras centrais. O Verão instala-se na sua plenitude e as dádivas da terra são celebradas com otimismo e alegria. Litha concede abundância, saúde e prosperidade.
* Syr Kai (2 de Julho a 24 de Julho) - A ascensão de Sirius, a Estrela do Cão, juntamente com o Sol, assinala a chegada das semanas mais quentes do ano. Simbolicamente é envolto pelos raios do astro-rei, retratando o momento em que até mesmo as noites transpiram a luz do Verão. Syr Kai transmite a energia solar em todo o seu esplendor, estimula a força de vontade, a criatividade e uma atitude expansiva perante a vida.
 
* Lughnasadh (25 de Julho a 16 de Agosto) - Lughnasadh é o festival do deus solar Lugh e das primeiras colheitas, celebrado a 1° de Agosto. Seu símbolo é a Espada de Luz, com que Lugh combateu e derrotou as forças das trevas na mítica batalha de Magh Tuireadh. Lughnasadh representa a força do Sol, a abundância da terra e a habilidade dos líderes.
* Mourie (17 de Agosto a 8 de Setembro) - Mourie era uma divindade tutelar nas Terras Altas da Escócia, ele é um deus 'hidróforo', condutor de águas, e encontrando-se associado a determinadas nascentes e poços de águas milagrosas. O símbolo de Mourie era cultuado através das águas e também através das árvores, razão pela qual estas se tornaram seu símbolo. Remniscências de práticas antigas sobreviveram, até aos dias de hoje através do culto a S. Maelrubha; celebrado a 25 de Agosto. Um 'santo' digamos diferente, do ponto de vista cristão, pois é invocado para a cura da loucura, como auxiliar em feitiços e cultuado com oferendas de gado, à antiga maneira pagã, nas margens de Loch Maree. Mourie concede os dons da cura, da fluidez de espírito e da sabedoria.

* Alban Elfed  (9 de Setembro a 1 de Outubro) - Corresponde ao equinócio de Outono, o momento em que a noite se encontra de novo com o dia. A partir de agora, a noite irá crescer e dominar a Terra até ao próximo solstício. O veado é Cernunnos, o Deus Cornífero, tal como o encontramos no xamanismo e na mitologia. O veado é também símbolo da força anímica e da sobrevivência durante os difíceis meses de Inverno. Alban Elfed concede as pessoas nascidas nesse período os dons da resistência, da dignidade e da determinação.
* Keyne (2 de Outubro a 24 de Outubro) - A Serpente é uma figura importante na mitologia Celta, tal como em muitas outras. Simboliza a sabedoria, a transformação e também o poder. A Serpente ficou associada a Keyne, filha do rei galês Brychan de Brycheiniog. Keyne foi uma mulher santa que passou à história como uma das primeiras devotas cristãs no país de Gales, sendo celebrada a 8 de Outubro. Diz-se que era muito bondosa e sábia, que detinha poderes mágicos e que podia, pela força das suas orações, transformar serpentes venenosas em pedra. Outra versão diz que ela encantou um determinado poço (existente até aos dias de hoje) para que conferisse o poder sobre a vida em comum ao primeiro cônjuge que bebesse da sua água depois de contrair o matrimónio. Naturalmente, continua a ser um poço muito visitado! Keyne concede os dons da força, da determinação e do conhecimento.

* Samhain (25 de Outubro a 16 de Novembro) - É o fim do ano Celta a 31 de Outubro. Esta é uma das noites mais mágicas do ano e a altura em que os espíritos dos mortos podem vir reunir-se com os seus familiares. É uma noite de festa e família, mas também o momento em que o 'Véu Entre os Mundos' se dilui; facilitando a adivinhação e o lançamento de toda a espécie de feitiços. Morrigan, sob a forma de um corvo, é a divindade que concedendo os dons da visão, do poder pessoal e da magia.

* Hop Tu Naa  (17 de Novembro a 9 de Dezembro) - Refere-se ao final do Outono. Os últimos trabalhos de preparação para o Inverno devem ser concluídos rapidamente, antes da Terra mergulhar finalmente na noite boreal. Na Ilha de Man esta data é celebrada em canções, como no trecho desta infantil que diz 'Jinny Squinny voou sobre a casa! Hop Tu Naa, Hop Tu Naa!'... Squinny quer dizer 'bruxa' - a senhora dos poderes da Lua no seu voo extático pelos céus escurecidos. O Pentagrama representa dos Cinco Elementos, é o seu símbolo de Hop Tu Naa que concede os dons da magia, da força de vontade e da comunicação com os espíritos.
* Alban Arthan (10 de Dezembro a 31 de Dezembro) - Alban Arthan ou Yule representa o Solstício de Inverno, momento em que os Druidas colhiam o visco sagrado. Esta é uma época lunar, de recolhimento interior e de desenvolvimento dos potenciais. O visco permanece como símbolo da Lua Cheia; surgindo ainda, nas decorações da época e relembrando que durante as longas noites de Inverno é ela que reina sobre o mundo. Concerne aos nativos dessa época os dons da austeridade, do carisma e da intuição apurada, ao mesmo tempo que traz consigo a esperança no retorno da Luz.


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