sexta-feira, 14 de abril de 2017

Fakes: Instrutores Espirituais




"(...) Aqueles que têm a pretensão de ser um guia espiritual, sem estarem absolutamente qualificados para desempenharem este papel, provavelmente jamais foram tão numerosos como em nossos dias. O perigo que se decorre disso é ainda maior quando estas pessoas possuem faculdades psíquicas muito potentes e mais ou menos anormais, o que evidentemente nada representam do ponto de vista do desenvolvimento espiritual. Essas faculdades psíquicas podem, inclusive, revelarem-se um indício muito desfavorável a este respeito, embora possam enganar e se imporem a todos aqueles que não estão suficientemente advertidos e que, por conseguinte, não sabem estabelecer as distinções essenciais entre o psíquico e o espiritual. É necessário, portanto, colocar-se o mais possível em guarda contra estes falsos instrutores, que só podem extraviar aqueles que se deixam seduzir e que deveriam sentir-se muito satisfeitos se não lhes ocorrer nada mais lamentável que pura perda de seu tempo.

Mesmo que esses falsos instrutores não sejam mais que simples charlatães, como há muitos atualmente, ou que se iludam a si mesmos antes de enganar aos outros, é algo que evidentemente não muda absolutamente as consequências. Até mesmo aqueles que, em certo sentido, são completamente sinceros (pois isso até pode ocorrer em vários graus) não deixam possivelmente de ser os mais perigosos em razão de sua própria inconsciência. Quase não há necessidade de acrescentar que a confusão entre o psíquico e o espiritual, que desgraçadamente está tão propagada em nossos contemporâneos, e que denunciamos em numerosas ocasiões, contribui em grande parte para a ocorrência dos piores equívocos a este respeito. Se acrescentarmos a isso o atrativo dos pretensos "poderes" e o gosto pelos "fenômenos" mais ou menos extraordinários que, por outro lado, quase inevitavelmente estão associados a tais figuras, teremos então uma explicação muito completa do êxito de certos falsos instrutores.

Apesar disso tudo, há uma característica pela qual muitos destes falsos instrutores, senão todos, podem ser reconhecidos facilmente por uma consequência direta e inevitável de tudo o que constantemente expusemos com respeito à iniciação. Diante das questões que nos foram expostas ultimamente a propósito de certos personagens mais ou menos suspeitos, acreditamos ser útil esclarecer tal característica de maneira ainda mais explícita. Qualquer um que se apresente como instrutor espiritual sem vincular-se a uma forma tradicional determinada ou sem se conformar às regras estabelecidas por estas, não pode ter verdadeiramente a qualidade que se atribui; pode ser, segundo o caso, um vulgar impostor ou um "iludido" que ignora as condições reais da iniciação. Neste último caso, mais ainda que no do impostor, é de se temer que ele seja, em definitivo, nada mais que um instrumento a serviço de algo que ele sequer suspeita."

René Guénon 

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