domingo, 17 de maio de 2015

Escreverás...

 
 
 
Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas
-e não serei eu.
Repetirás o que me ouviste,...
o que leste de mim, e mostrarás meu retrato
-e nada disso serei eu.
Dirás coisas imaginárias,
invenções sutis, engenhosas teorias
-e continuarei ausente.
Somos uma difícil unidade,
de muitos instantes mínimos
-isso seria eu.
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
aproximamo-nos e afastamo-nos eternamente.
-Como me poderão encontrar?
Novos e antigos todos os dias,
transparentes e opacos, segundo o giro da luz
-nós mesmos nos procuramos.
E por entre as circunstâncias fluímos,
leves e livres como a cascata pelas pedras.
-Que mortal nos poderia prender!?
 Cecilia Meireles
 

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