Não virá ninguém para espantar os corvos e dissolver essa atmosfera pesada de Prometeu.
Você cheira a encrenca, cheira fidelidade a um terceiro. Seus ouvidos estão lentos, sua boca paira em distante lugar, seus olhos se distraem seguidamente. Não tem brilho na pele, porém tensão nos ombros. Sua respiração é um poço de suspiros.
Quem enxerga fantasmas não vê os vivos.Não dá para começar um novo amor sem abandonar os anteriores. E errada é a regra que diz que a gente somente esquece um amor antigo por um novo.
Está com o corpo fechado, costurado, mentindo que já não sofre mais com as cicatrizes. Espera herança, não sai para trabalhar ternuras. Mendiga retornos, não cria memória. Sua nudez não responde ao pedido da curva. Nem balança com a música favorita. Está tomada do carma, do veneno, do ressentimento.
Pensa que está bem, mas está em luto. Uma mulher em luto não permite arrebatamentos, afasta-se na primeira gentileza que receber, recusa a prosperidade das pálpebras piscando nos bares e restaurantes.
Você nunca vai encontrar seu namoro, seu casamento, sua paz, se não terminar de se arrepender. É preciso guardar o máximo de ar, ir ao fundo, descer na tristeza e nadar para longe dela.
Não amará outro alguém sem solucionar pendências, sem recusar o homem que não a merece, o homem que não vai embora e tampouco fica.
Não amará outro alguém sem abandonar algumas horas de alívio em motéis. Não amará outro alguém se não bloquear as recaídas, se insistir em ressuscitar as promessas.
Uma mulher nunca será inteira se mantém romances quebrados. Nunca estará presente. Nunca estará aqui.
Entenda, minha amiga, só ama quem está disposta a ser amada.
Fabrício Carpinejar
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