sábado, 10 de maio de 2014

Wicked, o musical




    'Wicked: The Untold Story of the Witches of Oz' é um musical composto por Stephen Schwartz e adaptado do livro de Winnie Holzman; obra baseada no romance de 1995 de Gregory Maguire -'Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West' - é uma paródia ao filme de 1939 'O Mágico de Oz', que foi inspirado no livro escrito por L. Frank Baum, The Wonderful Wizard of Oz.. Nesta produção a história é contada através da perspectiva das bruxas da Terra de Oz; tendo seu enredo iniciado anteriormente à chegada de Dorothy em Oz vinda do Kansas e vai mais além; incluindo graciosamente diversas referências ao filme de 39 e ao livro de Baum. Assim é Wicked peça da Broadway que estreou em 2003, e desde então, bate record de bilheteria pelo mundo e conquistou várias premiações (3 Tony, 6 Drama Desk e 1 Grammy), sendo considerada uma das melhores peças dos últimas duas décadas. No musical tomamos conhecimento da amizade improvavél entre duas rivais - Bruxa Malvada X Bruxa Boa, que acabam por se relacionarem mesmo com a oposição de personalidades, a diferença de pontos de vista, a disputa amorosa, a reação ao governo corrupto de Oz e, finalmente, a queda de Elphaba nas graças dos Ozzianos.

   Vagando pela net deparamos com o texto a seguir que resume de uma bela forma a história...

Por Laís Rangel -  'Elsa, Elphaba e o empoderamento feminino'

   Wicked se tornou meu musical favorito desde que o vi pela primeira vez, em Londres. Eu amo musicais e a ideia de recontar uma história por outro ponto de vista sempre me agradou (7 - O Musical é outro que faz isso muito bem). Se você não o conhece, vou contextualizar brevemente: ele fala sobre O Mágico de Oz, mas através da ótica de Elphaba - mais tarde conhecida como a Bruxa Má do Oeste - e mostra que ela é, na verdade, uma mulher poderosa e incompreendida, além de tratar de forma muito sensível sua amizade com Glinda - aka a Bruxa Boa do Norte. Tenho ideias de mais dois ou três posts sobre Wicked, mas este, especificamente, é sobre as semelhanças entre Elphaba e a rainha de Arandelle.
 
   Esta semana enfim consegui assistir ao mais novo hit da Disney, Frozen. É um filme divertido, com a fórmula clássica de comédia + aventura + romance + trilha sonora chiclete. O grande diferencial? Ele deixa a história de amor príncipe/princesa em segundo plano o tempo inteiro e mantém o foco principal na relação de amor e proteção das irmãs Elsa e Anna, além de abolir a figura de um vilão central e mostrar que, na maioria das vezes, os grandes problemas acontecem devido a toda uma construção social, e não por culpa direta e exclusiva de uma pessoa querendo fazer o mal.

   Elsa e Elphaba são diferentes das outras pessoas, elas possuem um dom, um tipo de poder diferente que se não for compreendido e controlado é capaz de causar grandes danos, inclusive às pessoas que elas mais amam. Desde muito cedo elas foram orientadas a esconder esses poderes, fingir que eles não existiam para que não destoassem do que a sociedade esperava que elas fossem. O problema é que reprimir-se é perder a chance de conhecer seu verdadeiro potencial e seus desejos para caber na caixinha das expectativas alheias, e isso sim pode ser perigoso.
 
   É muito fácil para grupos socialmente oprimidos se identificarem com estas duas personagens. Ser quem somos, por si só, já é correr risco - muitas vezes até mesmo de vida. Somos obrigados a esconder nossas características físicas, nossa identidade de gênero, nossa orientação sexual, reprimir nossa sexualidade e muitas vezes deixamos de desenvolver verdadeiros talentos porque eles não correspondem ao que o mundo espera de nós. Quantas meninas são reprimidas por praticar determinados esportes ditos masculinos? Ou desestimuladas pelas famílias e desacreditadas pelo mercado a ingressarem em áreas dominadas por homens? Não é preciso ter poderes mágicos para sentir na pele o que Elsa e Elphaba sentiram, elas estão muito mais próximas de nós do que se imagina.

   As duas têm em comum uma grande dificuldade de socialização. Elsa por temer se aproximar das pessoas e machuca-las com seus poderes, e Elphaba por causar medo e repulsa nos outros pela sua pele de cor diferente e por possuir poderes mágicos. Solidão é algo que elas conhecem e entendem muito bem, e abrir-se para o mundo - seja literalmente abrindo os portões do castelo ou ingressando em uma universidade - é uma experiência nova e apavorante, mas decisiva na vida das duas. Neste ponto, elas já não contavam com a presença dos pais e precisavam manter seus segredos bem escondidos enquanto tentavam cuidar de suas irmãs mais novas - Anna e Nessarose - ambas vivendo o momento delicado do primeiro amor.

   Só que em algum momento as coisas saem de controle (não poderia ser diferente) e os poderes de Elsa e de Elphaba vem à tona. A partir daí, as duas seguem caminhos diferentes, mas que são os mais comuns quando mulheres demonstram um dom especial: ou são vistas como ameaça, ou atraem alguém que possa explorar este potencial até a última gota manipulando suas atitudes. Elsa é vista como um monstro em seu reino e Elphaba é usada pelo Mágico de Oz como ferramenta para controlar o povo da Cidade das Esmeraldas.

   Encurraladas e depois de passarem toda a vida escondendo e fingindo não ser quem elas realmente eram, elas têm um momento de libertação. As canções "Let it Go" e "Defying Gravity", hinos de Elsa e Elphaba, têm muitas semelhanças. Elas falam sobre romper com os padrões que sempre seguiram, libertar-se de correntes sociais e psicológicas e testar os próprios limites em vez de acatar passivamente o tudo que lhes foi ensinado e exigido. Amo as duas canções, elas transbordam empoderamento feminino e representam cada pessoa que decidiu não abaixar a cabeça para seus opressores e abraçar a sua verdadeira identidade contrariando o status quo. Elas representam cada pessoa que assumiu seus cabelos crespos, que exigiu ser tratada de acordo com o seu verdadeiro gênero, que aceitou que pode amar alguém do mesmo sexo, que decidiu que seu corpo não é propriedade de outra pessoa, que denunciou seu agressor ou que conseguiu se libertar de um relacionamento abusivo.

   É claro que nadar contra a corrente não é uma tarefa fácil, e a auto-aceitação é só o início de uma longa e árdua jornada. As duas personagens passam por um período de reclusão, fugindo do linchamento público que foi consequência dessa libertação. Há um backlash muito grande àqueles que dizem não aos padrões impostos... foram chamadas de "monstro", "bruxa" e o exílio foi a única solução encontrada pelas duas personagens naquele momento. Durante este período, elas precisaram ainda aprender uma nova forma de lidar com seus poderes e acabaram fazendo aquilo que sempre temeram: machucar aqueles que elas mais amavam - Nessarose, Fyiero e Anna. É importante destacar, no entanto, que se desde o início seus dons tivessem sido direcionados e compreendidos, em vez de suprimidos, estes acidentes jamais ocorreriam.

   Para superar as adversidades, elas precisam de ajuda. Não da ajuda de um príncipe salvador que resolve tudo magicamente com um beijo, precisam da ajuda de uma amiga, uma mulher que apesar de muito diferente é a outra face da mesma moeda da opressão que elas sofrem. Anna e Glinda, assim como Elsa e Elphaba, têm muito em comum. São as típicas garotas bonitas e populares que frequentemente são subestimadas, tratadas como acessórios e admiradas apenas pela beleza, não tendo voz ou influência política alguma. Mas elas são muito mais do que isso. São também mulheres fortes e inteligentes que podem SIM ser vaidosas e românticas e não perderem seu valor por causa disso. Elas são donas do próprio destino, capazes de se posicionarem assertivamente quando necessário e desempenham um papel fundamental ao aceitarem de forma sincera suas amigas como elas são. Enquanto a maioria dos contos de fadas mostra a competição feminina, a inveja e a rivalidade, Frozen e Wicked são grandes exemplos de que juntas as mulheres podem ir mais longe e muito melhor.

   Os finais felizes de Elsa e Elphaba são bem diferentes. Enquanto uma retorna ao reino, assume o trono e aprende a dominar e viver em paz com seu dom, a outra entende que será mais feliz longe de uma sociedade tão hipócrita e corrompida, buscando novos caminhos ao lado do seu amor imperfeito. É claro que vale lembrar que as duas personagens foram "vividas" pela maravilhosa Idina Menzel, mas como foi mostrado neste texto, as semelhanças entre elas vão muito além da intérprete. Então vamos torcer para que as meninas da nova geração sejam mais influenciadas por obras como Wicked e Frozen, que aprendam que podem sim ser especiais, diferentes, desafiadoras e fortes, que podem trilhar seu próprio destino sem precisar esperar deitadas por um príncipe salvador, que podem se libertar e até desafiar a gravidade se assim quiserem.

Fonte: http://lentesroxas.blogspot.com.br/2014/01/elsa-elphaba-e-o-empoderamento-feminino.html
 
                               
 
 

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